quarta-feira, 4 de abril de 2012

ABOIO
Francisco Perna Filho 




Oh, Jerusalém! 
A palestina sangra na menina dos teus olhos. 
E pálida fica a tarde aturdida pelos canhões 
amortecidos nos corpos espalhados pelo rio dos meus sentimentos. 

Sentir o arranque do carro, 
a distância da bala consumida pelo peito inocente da menina que vende flores em Copacabana. 

Praga se faz aqui, 
E em toda primavera nos sentimos invadidos 
pelos soldados da incompreensão, 
que marcham enraivecidos como os canhões na praça vermelha; 
como os pássaros nas torres gêmeas; 
quando as suas caras pálidas transbordam incertezas, 
soldados que estão na própria máquina que conduzem. 
Deuses do próprio umbigo, 
amaldiçoados em rastros de ferro e fogo. 

Famintos, 
Os governantes desconhecem as águas na quais se banham. 
Infelizes, não se comovem com o aboio da terra maltratada, 
estriada, ressequida. 

Infames, são a pura erva que mata o gado que somos. 
Muitas outras dores passam a largo, 
E não há remédio que possa acalmá-las. 
Muitos outros gritos repercutem, 
Como a mulher que grita desesperada 
Pelas ruas de Bagdá. 

Cavalos marcham em disparada. 
Fora os ídolos! 
Somente a idéia dos reis em marcha, 
Os santos quebrados a cada um que se desfaz. 

As aldeias estão às escuras, 
A estrela não brilha mais, 
E os homens gravitam no velho ábaco. 

Olvidados o grito da terra, 
Os sons metálicos das dores milenares, 
e a menina órfã é rasgada como brinquedo de exploradores, 
tão sedentos como os senhores da guerra. 
Cravam-nas, as lanças, fardo de suas misérias capitalistas, 
no corpo ingênuo da menina 
de pernas finas, 
bracinhos frágeis, 
ventre deformado, 
gestando o martírio de cana e etanol. 

Oh, malditos! 
Cearão a lama que produzem, 
Nadarão nos tanques dos seus martírios. 
Depois, embriagados chorarão a fome 
A miséria da alma, 
Os sons da fúria de uma cegueira ensaiada. 

Oh, infames! 
Visionários da própria destruição. 
Aceitarão os seus olhos para além do que podem entender, 
E não enxergarão nada mais do que terra degradada, 
Silêncio em decomposição, 
Saudade e desmantelo 
Na dor profunda do cerrado que se desintegra. 

Ei boi! Ei boi! Ei boi! 


fonte: 
Professor Me. Francisco Perna Filho
Coordenador Adjunto de Monografia - Direito
Faculdade Católica do Tocantins
(63) 3221-2125

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